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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Os Chumbos

«Chumbar» sempre evocou a pouco meritória actividade da caça. Sintoma mal disfarçado de «eliminar» a presa, pobre vítima desarmada. Indício de autoridade e poder quase absoluto. No professor deixava constrangimentos, mas é de admitir que em alguns se manifestassem personalidades perversas. No aluno desenvolvia-se o temor e o tremor, o ressentimento ou a tentação de comportamentos desviantes como saída para o sentimento de exclusão.
A actual ministra da educação lançou o repto de acabar de vez com os «chumbos». É possível que tal desafio seja mais que um desabafo, que se insira numa teoria completamente «desviante» relativamente à ideologia que tem imperado desde há décadas e que corporizou a contra revolução no ensino, um dos objectivos da contra-revolução em todas as esferas da vida nacional. A contra-revolução provocou a crise em quase todas as áreas, desde a destruição da produção de bens materiais até à concomitante destruição dos bens imateriais. Assistiu-se ao esvaziamento da avaliação contínua substituída pelos exames. Chegou-se ao cúmulo de se avaliar os professores pelos resultados dos seus alunos nos exames. O insucesso escolar é desastroso. A destruição do ensino das humanidades revelou-se um drama, o domínio dos conhecimentos e metotodologias científicas, uma tragédia.
A questão de se continuar ou não com o processo das repetências destapa problemas de fundo que envolvem filosofias da educação e filosofias políticas. Todo o sistema de ensino está contaminado pela ideologia dos «méritos», da «distinção» ou dos «dons», isto é, por uma ideologia de classe. Ainda que as repetências terminassem, não era por isso que se encerraria o ciclo vicioso das exclusões sociais. Desde há muito tempo que se realizam (sobretudo nas décadas de sessenta e setenta) estudos no estrangeiro (muitos poucos em Portugal) que vêm demonstrando o papel da Escola como reprodutora das desigualdades sociais. O insucesso escolar é apenas um sintoma (ou resultado) da crise social que corrompe a sociedade. Discutir se sim ou não aos «chumbos» de pouco vale se não se proceder a avaliações da natureza de classe da Escola Pública (a privada já se sabe que sim), seu conteúdo, curricula, competências dos professores (obcecados e amestrados para os exames), sua autonomia para aplicarem metodologias diversas, programas flexíveis, administração democrática das escolas, horários dos docentes, etc, etc. Mas, sobretudo, se não se desviar a economia do rumo liberal que tem conduzido ao desastre: dois milhões de pobres e outros tantos que gastam mais do que recebem. A «massificação» do ensino não corresponde de modo nenhum à democratização do ensino.

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