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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

PAUL ELUARD (1895-1952)

O Espelho de um instante


Ele dissipa o dia,
Ele mostra aos homens as imagens livres de aparências,
Ele rouba aos homens a possibilidade de se distraírem,
É duro como a pedra,
A pedra informe,
A pedra do movimento e da vista,
E o seu brilho é tal que as armaduras e as máscaras são falsificadas.
O que a mão pegou despreza assumir a forma da mão,
O que foi compreendido não mais existe,
O pássaro confundiu-se com o vento,
O céu com a sua verdade,
O homem com a sua realidade.


«Ta chevelure d'oranges»


A tua cabeleira de laranjas no vazio do mundo
No vazio dos vidros densos de silêncio
E de sombra onde as minhas mãos nuas te procuram os reflexos.


A forma do teu coração é quimérica
E o teu amor parece-se com o meu desejo perdido.
Ó suspiros de âmbar, sonhos, olhares.
Mas tu sempre estiveste comigo. A memória
Obscurece-se-me porque te vi chegar
E partir. O tempo serve-se de palavras como o amor.

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