No fim de semana passado, o coração do movimento sindical internacional reuniu-se em Roma, Itália, onde ocorreu o 18º Congresso Sindical Mundial com 419 delegados de 95 países.
No primeiro dia (6 de maio de 2022), o secretário-geral cessante da Federação Sindical Mundial (FSM) George Mavrikos fez um discurso de abertura,
analisando a experiência da atividade sindical no período anterior, bem
como os desafios e lutas que se estão a colocar ao movimento da classe
operária:
“Caros camaradas e companheiros militantes,
Caros
colegas, irmãos e irmãs em todos os cantos do planeta. Saudamos os 105
milhões de membros da FSM que vivem e lutam em 133 países dos cinco
continentes. Saudamos todos os que estão em greve e mobilizações nestes
dias, saudamos todos os delegados que participam virtualmente por causa
da pandemia, saudamos e agradecemos a todos vós que, apesar das muitas
dificuldades, estais aqui presentes e a participar nos trabalhos de 18º
Congresso Sindical Mundial.
Permitam-me também expressar o
meu apreço e agradecimento à USB [Unione Sindicale di Base] por ter
desempenhado um papel de liderança na organização do Congresso em Roma,
Itália, e por fazê-lo acontecer em muito boas condições. Lembramos que
na Itália, em Milão, ocorreu o 2º Congresso Histórico da FSM em 1949,
onde se destacou o dedicado militante da FSM Giuseppe Di Vittorio,
Presidente da FSM de 1949 até à sua morte em 1957. A USB é hoje, para a
classe operária italiana, a sua consciência de classe, a vanguarda
militante, aquela que expressa e leva adiante as tradições mais
gloriosas. A USB é a esperança para todos os trabalhadores sofredores da
Itália e pedimos aos trabalhadores do país que a sigam e apoiem.
Enviamos daqui uma mensagem de paz e diálogo pacífico aos povos da
Federação Russa e da Ucrânia e pedimos o fim da guerra. Exigimos que o
governo dos EUA e os seus aliados, finalmente, parem de lançar lenha na
fogueira. Sabemos que as causas profundas desta guerra estão na
estratégia expansionista da NATO.
Apelamos a todos os
sindicatos e a todos os sindicalistas que não afrouxem. Os perigos de
uma conflagração geral e de um conflito militar mundial são reais.
Governos como os da Grã-Bretanha, Estados Unidos e Austrália estão
constantemente a pôr lenha na fogueira. Com a propaganda global da
comunicação social capitalista, eles distorcem a realidade, dizendo que
a NATO está a enviar armas para a democracia…
Caros colegas,
No
período pré-congresso tentámos informar amplamente os trabalhadores.
Publicámos em toda a parte o documento central com o título: “Teses e
Prioridades”. Utilizámos o máximo possível de comunicação ao vivo dentro
dos setores e dentro dos locais de trabalho. Juntámos comentários,
sugestões e críticas. Agora, aqui em Roma, durante três dias,
discutiremos todas as questões que preocupam a Classe Operária Mundial e
o Movimento Sindical. Conseguimos estabelecer discussões abertas,
democráticas e vivas, com confiança na sustentação da nossa opinião.
Este é o tipo de congresso que a FSM realiza. Este é o tipo de congresso
que o Movimento Sindical militante e de classe deve realizar. E temos
certeza de que teremos um congresso assim, digno dos setenta e sete anos
de história da FSM. Porque aqui estamos reunidos, trabalhadores e
empregados manuais e intelectuais, trabalhadores da arte e da cultura,
mulheres e jovens trabalhadores, agricultores e trabalhadores do campo,
migrantes, refugiados, agricultores sem terra e indígenas.
Nas
fileiras da FSM, nas fileiras dos sindicatos militantes, está reunida a
parte mais ativa e honesta do movimento sindical. Quadros que foram
despedidos dos seus empregos pela sua atividade sindical e política,
militantes que foram perseguidos por patrões e governos, trabalhadores
pioneiros que dão a vida todos os dias pelos interesses universais das
pessoas comuns.
Estas são as características básicas da
nossa vanguarda, as características básicas dos membros e quadros da
FSM. Isto é quem nós somos. É isto que todos nós devemos ser. O que tem o
sindicalismo amarelo, comprometido com o patronato, em contraste com
a nossa equipe de quadros honestos? Burocracia, elitismo, corrupção,
aristocracia sindical e carreirismo nos tribunais da burguesia. São
lacaios da Danone, do FMI, dos imperialistas e das multinacionais. Isto é
quem eles são. Esse é o tipo de liderança que eles têm.
Caros amigos e camaradas,
Comecei
o meu discurso introdutório com os nossos quadros, os nossos lutadores,
porque acredito profundamente que o tesouro da FSM, o tesouro do
movimento sindical de classe é a sua gente. A nossa gente, os nossos
quadros, em conjunto com a nossa linha e ação, são a nossa força
fundamental. É uma força invencível.
Tudo isto foi provado
e confirmado na prática, na própria vida, nos últimos 17 anos. Em
dezembro de 2005, assumimos uma FSM gravemente ferida e gravemente
doente. Os seus edifícios e bens na República Checa foram confiscados.
Tínhamos sido despejados da nossa sede e estávamos alojados fora de
Praga numa casa localizada no campo. A FSM foi caluniada e desprezada.
Tinha dívidas financeiras de $200.000 e uma equipe antiga e
burocratizada. A média de idades era de 70 anos! Era, em geral, um
mecanismo temeroso e, na maioria das vezes, sem contacto real com a base
sindical. Hoje, a nossa equipe nos Escritórios Centrais tem uma idade
média de 35 anos e são militantes conscientes da FSM.
Poucos
na época acreditavam que, sob condições de perseguição, terror e pânico
a FSM se poderia erguer de novo. E, mesmo assim, conseguimos. Nós
conseguimos. Acontece que Ernesto Che Guevara estava certo quando disse e
escreveu “devemos ser realistas, devemos exigir o impossível”. O
percurso de 17 anos não é um milagre. Não é o resultado de uma oração
divina nem a consequência de um fenómeno natural.
Como
conseguimos este grande progresso, o grande salto, como lhe chamou o
camarada Quim Boix? Como é que hoje conseguimos entregar uma organização
de 105 milhões de membros em 133 países do mundo, enquanto em 2005
recebemos uma de 48 milhões?
Primeiro: pela convicção, pela
convicção profunda de que, no mundo moderno, a classe operária precisa
de uma arma própria. Precisa de uma ferramenta própria para elaborar a
sua estratégia e tática; estratégia e tática para si mesma como classe
social com uma missão histórica particular.
Contra a
conceção reformista e revisionista que afirma que supostamente não há
classe operária hoje e identifica a classe operária com os trabalhadores
braçais dos séculos anteriores, respondemos, e estamos a responder
cientificamente que, no mundo moderno, com as grandes mudanças e
progressos tecnológicos, mantêm-se duas classes sociais básicas: os
capitalistas, os exploradores de um lado e os operários e empregados do
outro. Claro que a classe operária também está a evoluir, a
desenvolver-se, a adquirir mais conhecimento, está mais educada do que
antes, acumulou mais conhecimento e experiência e as suas necessidades
básicas estão em constante expansão. Todas essas mudanças existem e nós
levamo-las em consideração. Mas, apesar de todas essas mudanças, o
critério básico permanece: a exploração, a produção de mais-valia e o
roubo do suor dos trabalhadores para os bolsos da burguesia.
Por
isso, avançamos com a convicção de que no mundo moderno há injustiça
social, há exploração social que é ainda mais cruel e ainda acreditamos
que a classe operária atual com o seu grande conhecimento e experiência
está mais próxima de tomar nas suas próprias mãos mãos a viragem do
processo produtivo.
Segundo: Com o trabalho coletivo e a
posição militante comum da grande maioria de nossos membros e quadros. O
que alcançámos não foi resultado do trabalho de uma única pessoa.
Veio principalmente como um esforço coletivo, uma busca comum e uma
postura comum de todos nós. Juntos construímos este edifício. Não
negamos o papel do indivíduo. Sabemos que, na história social, o
indivíduo certamente influencia os acontecimentos. Mas são as massas
que escrevem os desenvolvimentos, o progresso e o avanço; são os
coletivos que fazem isso e não reis, cardeais ou príncipes.
Terceiro:
Prestamos atenção à base e tentamos não perder o contacto com a base;
com os nossos sindicatos, com os trabalhadores, os desempregados, os
imigrantes, os refugiados, os sem-abrigo e os excluídos. Reforçámos a
democracia interna na nossa atividade.
Visitei pessoalmente 87
países ao longo de 20 anos e, alguns deles, muitas e muitas vezes.
Membros do Secretariado e do Conselho Presidencial fizeram o mesmo.
Muitos outros quadros visitaram muitos países e estiveram perto da
base.
Com todos esses contactos fomos ganhando a força da
base e dando coragem às lutas. Tentámos ter os nossos ouvidos e olhos
abertos para as lutas e reivindicações da base. É assim que se conquista
a confiança dos trabalhadores e a base se torna mais militante, mais
combativa, porque percebe que não está sozinha nas suas lutas. Nós
amamos e apoiamos a base da FSM e a base está a retribuir com o seu amor
e apreço.
Quarto: Utilizar a crítica, a autocrítica e a
emulação indispensáveis ao nosso progresso e aperfeiçoamento a nível
coletivo e individual. Como quadros da FSM, devemos sempre analisar
objetivamente as situações. Devemos ter conhecimento objetivo da
realidade no nosso setor, na nossa região, no nosso sindicato e no
mundo, como direção da FSM. Para atingir esse nível precisamos de
autoconsciência, exame crítico e autocrítico das nossas decisões e
ações. Temos o dever de fomentar a emulação coletiva, a ambição
militante de melhoria e o desenvolvimento global da personalidade nos
nossos quadros. E, acima de tudo, a nossa lei básica foi e será a
obrigação de aprender com nossos erros; estudar as nossas fraquezas e os
nossos erros para analisá-los. O lutador inteligente aprende com os
seus erros. O superficial nunca!
Quinto: Neste curso de
duas décadas, caminhámos utilizando a nossa rica história. Com os seus
pontos positivos e negativos, com os seus passos em frente e para trás;
com os seus compromissos dignos e as suas concessões inaceitáveis; com
os seus grandes acertos e os seus poucos mas existentes erros. Para nós,
hoje, a experiência histórica, tanto a positiva como a negativa, é um
ativo positivo e uma arma positiva para o presente e o futuro. E para
construir o amanhã precisamos de utilizar a experiência de ontem.
A
utilidade da história do movimento sindical a nível setorial, local,
nacional e internacional é grande, hoje. E, ao mesmo tempo,
defender-nos e contra-atacar a tentativa indecente de reescrever a
história é uma tarefa fundamental.
Defendemos antes e
defendemos hoje a verdade histórica. Assim, fizemos em cursos especiais
sobre a história do movimento sindical, em seminários especiais, em
concursos de livros e cartazes, em publicações, artigos e discursos. Em
17 anos estimamos que mais de três mil dos nossos quadros, na sua
maioria jovens, tenham participado em seminários relevantes.
Sexto:
Assumimos a FSM em estado de paralisia. Então a tarefa imediata era a
ação. Por isso, lançámos a palavra de ordem “Ação – Ação – Ação” no XV
Congresso Sindical Mundial em Havana, Cuba. Não podíamos perder tempo
com introversão, inação e discussões intermináveis. Enfatizámos que
íamos trazer a FSM de volta à vida “em ação”. Era através da ação que
provaríamos se e o que poderíamos alcançar. E desenvolvemos toda essa
rica ação que todos vocês conhecem, que está descrita nos textos e
principais documentos do nosso Congresso e está disponível no nosso
Manual “Estatísticas 2005 – 2022”, e nos nossos vídeos e publicações.
Por
isso, a lição e a conclusão é a ação, a ação com os nossos objetivos e
prioridades. Em ação nos últimos anos, organizámos a educação sindical e
muitos cursos de formação sindical.
Sétimo: Contávamos
financeiramente apenas com os nossos filiados, na base, nos
trabalhadores comuns. Recebemos a FSM em dezembro de 2005 com uma dívida
financeira de 200 mil dólares. Hoje entregamos a FSM sem nenhuma
dívida. Não devemos um centavo! E gostaria de agradecer desta tribuna do
Congresso a todas as organizações que, durante todos esses anos,
apoiaram a FSM pelo seu “querer”. O seu apoio deu-nos força. Hoje
cobrimos todas as despesas do 18º Congresso com as quotas doa filiados e
o apoio financeiro exclusivamente dos filiados da FSM.
Caros colegas e irmãos,
Após
as viragens da correlação de forças internacional sofridas no período
1989-1991, o Movimento Sindical Internacional também enfrentou grandes
dificuldades e grandes desafios. Esses desenvolvimentos deram origem a
sérios debates, conflitos e confrontos dentro dos sindicatos. Podemos
dizer sem exagero que a situação não tinha precedentes. Vimos
sindicalistas e movimentos em pânico. Vimos alguns a esconderem-se por
medo, outros a mudar as suas convicções da noite para o dia, outros a
baixar e a esconder as suas bandeiras, a sua história, os seus símbolos.
As
mudanças do século aconteceram e todos nós estávamos diante de
acontecimentos que abalaram o mundo. Estive presente, em 1994, em nome
do movimento sindical de classe grego, como então Secretário-Geral da
ESAK, no congresso crucial em Damasco, na Síria. E sinto a necessidade
de agradecer à GFTU – Síria [General Federation of Trade Unions (Syria) –
Federação Geral de sindicatos – Síria] e ao então Presidente do país
Hafez Al-Assad, mesmo após 28 anos, por aceitar e arcar com os
múltiplos custos da organização do 13º Congresso da FSM durante um
período de perseguição à FSM.
Foi um Congresso
existencial. As discussões versaram questões ideológicas, teóricas e
organizacionais complexas e centrais. Por exemplo, se havia uma razão
para manter a FSM ou se ela deveria ser dissolvida e integrar-nos
todos na CSI (então CISL). Se a classe operária existia ou não, se a
luta de classes existe ou foi abolida pela colaboração de classes e
muito mais. Foi um conflito generalizado porque ambos os polos, ambas as
linhas, eram fortes.
Naquele congresso quebraram-se as
amizades, as uniões fraternas dividiram-se e cada um de nós escolheu um
lado. A posição maioritária no congresso era manter a FSM e tentar
modernizá-la e preservá-la. Durante aquele duro conflito interno,
grandes personalidades desempenharam um papel importante, entre eles o
secretário geral cubano da CTC [Central de Trabalhadores de Cuba], Pedro
Ross, o histórico comunista vietnamita CU THI HAU, secretário geral do
VGCL [Confederação Geral dos Sindicatos do Vietname], o indiano
Mahendra, presidente da AIUC [All-India Trade Union Congress –
Congresso dos Sindicatos de Toda a índia], o sírio Izz al-Din Nasser,
líder da GFTU e muitos outros, como o sírio Adib Miro, sindicalistas da
Líbia…
Se menciono estes, é porque quero sublinhar que,
desde que assumimos a liderança da FSM e até hoje, aqueles que têm
estado constantemente a atacar a FSM, a linha da FSM e a sua atividade,
são os dirigentes de sindicatos principalmente europeus que deixaram a
FSM naquela época. Os seus ataques são sujos, caluniosos e em
colaboração com mecanismos obscuros e suspeitos, também com a utilização
de organizações internacionais, governos capitalistas e a burguesia
internacional.
Todas as lideranças que deixaram a FSM
seguiram durante 30 anos um caminho de integração no sistema
capitalista. Juntaram-se à CSI e à CES, dizendo que supostamente iriam
alterar estes mecanismos “a partir de dentro”. Depois de trinta anos,
qual é a conclusão? Quem mudou afinal? Quem foi transformado? Que cada
um tire suas próprias conclusões.
As nossas portas estão
sempre abertas. Todos os sindicatos de classe são bem-vindos. Durante
dezassete anos, promovemos consistentemente a unidade da classe operária
e de todos os trabalhadores. Construir uma unidade sólida é a nossa
tarefa diária. Claro que todos sabemos o que a palavra unidade sofreu
nos vocabulários de todas as línguas do mundo. É a palavra mais usada.
Como um doce, todos o têm na boca: tanto os que, sinceramente, a querem e
a procuram, como os que a odeiam, mas fingem que a procuram.
Mas a unidade não é uma palavra oca. Não é uma bebida incolor, inodora e insípida. Todas as vezes tem um conteúdo específico.
Vejamos
a questão palestina, por exemplo. Os palestinianos pedem unidade,
alianças e apoio internacional para alcançar o seu próprio Estado
independente. Israel, por outro lado, também está a pedir unidade,
alianças e apoio internacional, mas para expulsar os palestinianos de
Jerusalém.
Vejamos o exemplo de Cuba. Os norte-americanos e
todos os imperialistas pedem unidade para isolar Cuba. E todos nós
estamos a pedir unidade, a organizar campanhas e a unir forças e juntar
esforços para apoiar Cuba, o CTC [União Central dos Trabalhadores de
Cuba] e o povo cubano. Apelamos à unidade com os objetivos de Cuba,
contra os objetivos da unidade imperialista. Portanto, a chave é sempre
perguntar: unidade com quem e com que objetivo? Esses são avaliados no
tempo e no lugar. É assim que tentamos enfrentar as necessidades dos
tempos ao longo de todos estes anos, apoiando ao longo do tempo a
unidade, em primeiro lugar da própria classe operária, as suas alianças
com o campesinato pobre, com a juventude e com o intelectualidade que se
junta aos objetivos da classe social de vanguarda. Esta unidade, a
nossa unidade, unidade de classe, visa satisfazer as necessidades
contemporâneas dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, exigir mudanças
sociais que cheguem até ao derrubamento da exploração capitalista. Pelo
contrário, a pseudo-unidade dos reformistas, dos burocratas, da
aristocracia sindical e dos chamados “neutros” visa maquilhar e
branquear o capitalismo e a colaboração de classes. Visa cativar os
sindicatos na colaboração de classes em linha com os imperialistas.
Caros amigos,
A
FSM e o congresso da sua fundação em 1945 foram identificados com a
visão do mundo mais progressista e universal formulada e fundada pelo
gigante do Pensamento Mundial Karl Marx com a ajuda e colaboração de
Engels.
Com base nestes princípios tentámos proceder nos
últimos 17 anos; fortalecendo as características do Internacionalismo,
da Solidariedade Internacional e da solidariedade entre os Povos do
mundo. Contamos com a rica história internacionalista da FSM, que apoiou
as lutas moralmente, materialmente e de todas as formas possíveis. O
internacionalismo da FSM em todos os continentes, na África, Ásia,
América Latina, Caribe e América Central é conhecido e reconhecido tanto
por amigos como por inimigos. Muitas vezes temos enfatizado que o
internacionalismo, o internacionalismo proletário entre os trabalhadores
e os povos, é a arma nuclear do movimento sindical de classe.
Enfatizamos e continuamos a enfatizar que ninguém deve estar sozinho nas
suas lutas.
Durante estes 17 anos, nunca afirmámos ser
neutros. Geralmente apresentam-se como neutros, independentes ou sem
“patrono” aqueles que balançam uma vez para este lado e outra para
aquele; aqueles que querem agradar a todos, aqueles que têm medo de se
posicionar com clareza sobre algo ou que se posicionam com critérios
oportunistas.
Não somos neutros nem independentes! Estamos 100%
comprometidos e dependentes dos princípios e valores da luta de classes,
da história e sacrifícios dos nossos heróis, da necessidade de
emancipação da classe operária. E porque somos quem somos, não temos
medo das ameaças imperialistas.
Os imperialistas e a
classe burguesa internacional estão com medo e preocupados com o
fortalecimento da FSM. É por isso que usam sempre as mesmas medidas
antidemocráticas como, por exemplo, em 1952, quando o conhecido
presidente da FSM, Giuseppe Di Vittorio, foi proibido de se dirigir aos
Estados Unidos para falar na ONU; da mesma forma, hoje, o Secretário
Geral da FSM foi proibido de entrar nos Estados Unidos pela mesma razão;
da mesma forma continuam com julgamentos fraudulentos contra o nosso
quadro, Cliff, em Los Angeles e contra os nossos dirigentes em todos os
países capitalistas. Todos estes anos nós lhes enviámos – e estamos a
enviar-lhes mais uma vez da tribuna do 18º Congresso Sindical Mundial – a
mensagem de que não temos medo deles. Não esquecemos ou perdoamos os
seus crimes.
A FSM de hoje será respeitada ou temida. Não existe uma terceira via.
Assim,
organizámos quatro campanhas internacionais e apoio material ao Povo
Palestiniano. Organizámos um ataque global contra navios mercantes
israelitas em todos os portos do mundo. Organizámos acampamentos
infantis para jovens palestinianos, campanhas pela libertação de
prisioneiros em prisões israelitas, intervenções em organizações
internacionais pelo direito do povo palestino a ter o seu próprio Estado
independente com Jerusalém Oriental como capital com base nas
fronteiras de 1967. Organizámos iniciativas semelhantes de
internacionalismo e solidariedade com Cuba e com o povo cubano e, em
conjunto com muitos outros movimentos conseguimos a libertação dos 5
cubanos que estavam presos nas prisões dos Estados Unidos.
Em
todos os foros internacionais rechaçámos as calúnias lançadas pelos
dirigentes sindicais amarelos em conjunto com a máfia anticubana que
vive em Miami. E assim continuaremos até que o bloqueio seja abolido e a
terra de Guantánamo seja devolvida a Cuba. Tivemos a mesma posição com a
Venezuela, com a Bolívia, contra o golpe no Brasil e em toda a parte.
Em todos os cantos do mundo ficou conhecida a postura internacionalista
da Federação Sindical Mundial.
Os anos de que falo foram
marcados por muitas guerras imperialistas. Aqueles que afirmavam que os
derrubes de 1989-1991 seriam a favor da paz internacional revelaram-se
hipócritas. O absurdo politicamente tolo da figura desprezível de M.
Gorbachev de que todos viveríamos como irmãos numa casa comum também se
mostrou hipócrita. Duas guerras na Europa, na Jugoslávia e a guerra
Rússia-Ucrânia, as guerras no Iraque, Afeganistão, Mali, Líbia, Síria,
Azerbaijão e outras, confirmam que o imperialismo é um perigo para os
povos e os trabalhadores.
A invasão da Ucrânia pela Rússia
traz à tona questões sempre atuais e sempre úteis para os trabalhadores
e os Povos. Lembramos que a guerra da NATO contra o Iraque foi “em nome
da democracia”, o bombardeamento de 79 dias da NATO à Jugoslávia foi
“pela liberdade”. No Afeganistão, na Síria, na Líbia, em todos os
lugares onde os EUA, a União Europeia e a NATO atacaram, foi porque a
NATO é apaixonada pela democracia, como nos dizem!!!
E todos os
grandes meios de comunicação de massas se mobilizam em torno dessas
mentiras para enganar o povo. Guerras como a atual são travadas por
recursos, pela energia, por portos e mares. Além disso, agora na
Ucrânia estamos testemunhar outro evento sério: a estreita cooperação
entre neoliberais, neonazis e social-democratas. Na Ucrânia, a máscara
dos hipócritas está a cair. Por exemplo, na França toda a gente está
feliz porque a formação neofascista de Marine Le Pen perdeu, mas ao
mesmo tempo apoiam o governo neofascista da Ucrânia e os batalhões
neonazis. Por um lado, supostamente acusam Orban da Hungria de ser
racista, mas ao mesmo tempo apoiam o governo racista polaco. Veja-se
também o exemplo da Itália e da Grécia, onde aprovam a participação e o
apoio a governos de racistas e neoliberais como Matteo Salvini, Panos
Kammenos, etc.
Assim, o apoio e o armamento dos neonazis
na Ucrânia provam a verdadeira face dos EUA, da NATO e da União
Europeia. Todos eles, com essa atitude, legitimam o nazismo. É por isso
que estamos a tocar a campainha de alarme. Por trás de todos esses
mecanismos negros a nível sindical está a CSI e a sua subsidiária na
Europa, a CES. Eles escolheram o lado. Sempre estiveram com os
imperialistas.
Apoiaram as guerras imperialistas no
Iraque, aplaudiram as guerras na Líbia e na Síria, no Afeganistão e
fizeram declarações a favor do bombardeamento da NATO à Jugoslávia. Mais
uma vez, estão agora ao lado dos imperialistas da NATO. Apoiam
descaradamente as forças neonazis e tornam-se instrumentos da estratégia
dos EUA e seus aliados que querem a Federação Russa derrotada, a
República Popular da China isolada, cativos todos os países que não
alinham com os seus planos como a Índia.
Agora querem
redesenhar as fronteiras, dominar o Ártico e o espaço. Este grande
quadro vem confirmar nos nossos dias que a tolerância aos fenómenos do
neofascismo traduz-se em grandes perigos para os sindicatos e os
trabalhadores, e também que a cooperação e as alianças com a
social-democracia cativam os sindicatos e priva-os dos seus objetivos
fundadores.
A história ensina que é um erro mortal que os
sindicatos participem de rivalidades intra-imperialistas e escolham um
campo imperialista. Além disso, fica cada vez mais claro que a luta
antifascista mais consistente e eficaz é aquela que leva à emancipação
dos trabalhadores e a uma sociedade socialmente justa.
Como
uma organização sindical anti-imperialista firme, a FSM opôs-se a essas
guerras, organizou grandes iniciativas de massas, comícios
anti-imperialistas e antifascistas e fóruns internacionais. Estávamos
nas zonas de guerra na Jugoslávia, Síria e Iraque. Durante a guerra na
Síria, fomos muitas vezes a Damasco. Hoje, quando crescem os riscos de
uma guerra generalizada, é necessário intensificar a nossa luta pelo fim
da guerra Rússia-Ucrânia e pela resolução de todas as disputas por meio
de negociações. A nossa principal tarefa agora é fortalecer as vozes e
as ações para o desmantelamento da NATO. É a NATO que incendeia as
guerras em toda a parte. A nossa proposta de anunciar o dia 1º de
setembro de cada ano como um dia de ação internacional dos sindicatos
pela paz e amizade entre os povos é oportuna e realista. Escolhemos e
propomos o 1º de setembro porque em 1º de setembro de 1939, a Alemanha
nazi iniciou a Segunda Guerra Mundial que custou a vida de 85 milhões de
pessoas. Portanto, vale a pena concordar que estamos a revivee e a
reativar uma decisão anterior tomada pela FSM na década de 1980.
Caros camaradas,
Outra
palavra de ordem que lançámos nos últimos anos foi, que no mundo em que
vivemos, a nossa esperança está nas nossas lutas. E, de facto, as lutas
dos trabalhadores trouxeram muitos resultados concretos. Sem as lutas
que ocorreram em todos os continentes, as perdas para os assalariados
teriam sido maiores. Através das lutas, tanto a solução de algumas
reivindicações imediatas, a defesa de direitos e conquistas e a luta
contra as privatizações, despedimentos, mudanças antissindicais e outras
foram alcançadas. Mas o ganho mais importante das lutas foi e é a
compreensão dos trabalhadores de que o nosso poder está apenas na luta
de classes.
Além disso, por maior que a consciência de
classe seja e as massas compreendam que a ação no quadro do sistema
capitalista não seja ilimitado, isso também é um grande ganho. O
trabalhador que veja por experiência própria que as lutas vão além da
satisfação das suas necessidades contemporâneas, chegando ao conflito e
ao questionamento direto do sistema explorador, esse trabalhador
torna-se um militante mais forte e consciente. Como resultado de todas
essas lutas e ricas ações veio o fortalecimento organizacional da FSM
com a criação da Comissão das Mulheres Trabalhadoras, da Comissão da
Juventude, da Comissão de Imigrantes, da Comissão de Assessoria
Jurídica, etc.
Ao longo dos últimos anos, foram
organizadas grandes lutas de todas as formas. Desde os protestos mais
simples, petições, comícios, até formas mais elevadas e complexas como
paralisações, greves, ocupações de fábricas, etc.
Não vou
falar de países porque corre-se o risco de esquecer um país, um setor ou
uma greve. Afinal, todos sabemos que em todos os continentes a classe
operária mobilizou-se e lutou. Mas deixem-me fazer três exceções. Uma,
as grandes greves na Índia, com 200 milhões de manifestantes numa
ocasião e 260 milhões na outra, foram greves que deram força e coragem a
todo o planeta.
A outra foi a greve militante dos
sem-terra em Curuguaty, Paraguai, liderada pelo camarada Villalba, que
foi manchada com o sangue dos militantes e penas pesadas que obrigaram o
líder da FSM a passar 12 anos na prisão, em condições desumanas que
vimos com nossos próprios olhos durante uma visita ao presídio de
Assunção. E a terceira, que não é uma, mas muitas juntas, são as greves
sangrentas dos trabalhadores palestinianos que resistem aos postos de
controle do exército israelita e enfrentam o terrorismo israelita.
Caros colegas,
Como
FSM, destacamos a necessidade de defender o direito à greve. É um
direito sagrado, conquistado com o sangue dos nossos companheiros. A
burguesia internacional exige a abolição do direito à greve, colocando
tantos e tantos obstáculos que será impossível organizar uma greve.
Afirmamos desta tribuna que defenderemos a todo custo o direito à greve
e os direitos às liberdades democráticas e sindicais.
Camaradas,
Para
uma Organização Sindical Internacional como a FSM, as nossas lutas
começam nas ruas, nas praças públicas, nas fábricas e as nossas vozes
chegam às Organizações Internacionais nas quais participamos. Discutimos
em congressos anteriores e decidimos utilizar a nossa presença nas
Organizações Internacionais para promover e assinalar as questões dos
trabalhadores. Não temos ilusões sobre o papel atual das Organizações
Internacionais, principalmente após as mudanças no equilíbrio de poder
internacional. Hoje, as Organizações Internacionais são controladas
pelos governos dos Estados Unidos e da União Europeia.
Lembremos
quantas resoluções a ONU tomou para deter o bloqueio contra Cuba.
Muitas. Qual é o resultado prático? Palavras vazias. Pelo contrário, foi
necessária apenas uma decisão para os imperialistas atacarem a Líbia e a
guerra foi travada. Esta é a foto de hoje. No entanto, podemos, sem
ilusões, usar a nossa presença na ONU, na FAO, na UNESCO e na OIT para
revelar a verdade do ponto de vista das pessoas comuns.
Seguindo
essa tática nos anos anteriores, destacámos dentro das organizações
internacionais os assassinatos de sindicalistas pioneiros na Colômbia, a
brutalidade patronal contra os trabalhadores rurais em Foggia, Itália,
as responsabilidades do governo da França com os ataques em Gardanne,
lutámos dentro da FAO contra os altos preços dos alimentos básicos,
destacámos na UNESCO a defesa das línguas maternas e dialetos locais que
são património mundial.
Dentro da ONU, a nossa
persistência e as nossas intervenções para as mulheres trabalhadoras
tiveram um impacto significativo. E, é claro, que tanto na ONU como na
OIT temos exposto consistentemente o papel sujo dos governos e do
patronato contra Cuba, Venezuela, Síria, Líbia, Iraque, Irão e todos os
povos que exigem decidir por si mesmos sobre seu presente e futuro.
Colegas,
As
nossas lutas e a nossa atenção incluíram todas as reivindicações que
dizem respeito ao povo trabalhador em todos os cantos do planeta.
Durante o período da pandemia revelámos que “o Rei vai nu” e que os
pobres pagaram com a vida as carências na saúde pública. Ao mesmo tempo,
insistimos na importância de defender as liberdades democráticas e
sindicais enquanto os governos, sob o pretexto da pandemia, intensificam
os seus ataques antidemocráticos através do teletrabalho e da
generalização do trabalho a tempo parcial.
As questões das
alterações climáticas, a utilização dos recursos hídricos, a
necessidade de habitação digna, o acesso a água limpa e potável para
todos os residentes de África, os cuidados de saúde públicos e
gratuitos, bem como a nossa luta contra o trabalho infantil, têm sido há
muitos anos a linha de frente das nossas reivindicações centrais nas
Jornadas de Ação estabelecidas desde 2008 e organizadas todos os anos
sem interrupção.
Mas permitam-me destacar as nossas lutas
por condições de saúde e segurança nos locais de trabalho. É nosso
princípio básico exigir que todos os trabalhadores voltem para casa com
saúde, sãos e salvos. Para voltar do trabalho como saíram de casa para o
trabalho. Lamentamos as vítimas todos os anos. Os crimes são cometidos
pelos patrões, pelos monopólios e os seus governos. Trezentos e um
mineiros ficaram soterrados em Soma, Turquia e o Presidente da Turquia,
Tayyip Erdogan, disse que era a vontade de Deus!!! Não, não era a
vontade de Deus. Foi um crime do patrão. Em Dhaka, Bangladesh, 1.400
operárias de vestuário ficaram soterradas sob as ruínas da antiga
fábrica. No Qatar, mais de 6 500 trabalhadores perderam a vida nas obras
da Taça do Mundo. Em todos os lugares, em todos os continentes, a
situação é trágica. A OIT estima que 2, 3 milhões de homens e mulheres
percam a vida por acidentes ou doenças profissionais todos os anos, ou
seja, 6 000 mortes por dia. Em todo o mundo ocorrem 340 milhões de
acidentes de trabalho e 160 milhões de vítimas de doenças ocupacionais
são registados todos os anos.
Governos e capitalistas são
os perpetradores morais e físicos. Esses incidentes são crimes, não o
resultado de fenómenos climáticos. Pois bem, sabemos que nos incêndios
são os pobres que se queimam, nas inundações são os mais pobres que se
afogam, durante os terramotos geralmente são os mais pobres que são
esmagados. A verdadeira causa de tais crimes está na sede de lucros.
Como sindicatos, temos a sagrada obrigação de aumentar diariamente a
nossa consciencialização e as reivindicações pela saúde e segurança dos
trabalhadores. Não apenas quando tais crimes ocorrem. A prevenção é
valiosa, por isso é um dever diário para nós.
Caros irmãos e irmãs, colegas
Após
cinco anos como vice-presidente da FSM e 17 anos como seu
secretário-geral, estou profundamente convencido de que a classe
operária mundial e todos os trabalhadores do mundo precisam da FSM. Eles
precisam de uma FSM que dê esperança, inspire e defenda seus
interesses. Sem a FSM, a situação dos trabalhadores e do movimento
sindical seria muito pior e com mais dificuldades do que temos hoje.
Pense-se
no que a FSM contribuiu para seus próprios países de 1945 até os dias
atuais. Presente em todos os lugares e sempre ao lado dos seus povos e
dos seus sindicatos. Pense-se em quantos sindicatos a FSM ajudou a
fundar nos primeiros e difíceis anos.
Pense-se nos líderes que
surgiram nos seus países e nos seus setores, que deram as suas vidas
pela luta de classe. Não nos esqueçamos que as reivindicações sindicais
mais avançadas dos trabalhadores foram apresentadas e exigidas nas
faixas, publicações e reivindicações da FSM. Todos nós temos o dever de
difundir e defender esta verdade histórica, e de denunciar os mentirosos
e falsários que espalham metodicamente mentiras através das várias
fundações como a Friedrich Ebert, através das várias ONG que, na sua
maioria, são mecanismos de corrupção da consciência dos trabalhadores..
Camaradas,
Para
concluir, quero dizer a todos vós, a todos os nossos membros, que estou
otimista em que, com a unidade de todas as nossas fileiras e
fortalecendo as características de classe da FSM, fortalecendo a nossa
ação no que diz respeito aos trabalhadores hoje podemos atender às
reivindicações dos tempos.
O poeta pioneiro revolucionário
russo Vladimir Mayakovsky escreveu: “o futuro não virá por si mesmo” no
seu grande poema com o título geral: “Tirem o futuro da lama!”. Depende
da nossa ação tirar o futuro da lama do capitalismo. O futuro de todos
nós não pode ser o capitalismo. O futuro pertence ao mundo do trabalho e
das lutas. Por um mundo sem exploração do homem pelo homem. Continuemos
unidos na nossa linha militante, na linha testada da luta de classes e
do internacionalismo proletário.
Para tirar o futuro da lama!
VIVA A FSM ANTICAPITALISTA
VIVA A FSM ANTI-IMPERIALISTA”.
Fonte: https://mltoday.com/outgoing-wftu-leader-pull-the-future-out-of-the-mud-of-capitalism/, publicado e acedido em 10.05.2022
Tradução de TAM