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segunda-feira, 23 de maio de 2022

 


George Mavrikos

 

Discurso de abertura do 18º Congresso da FSM

 

Nas fileiras da FSM, nas fileiras dos sindicatos militantes, está reunida a parte mais ativa e honesta do movimento sindical. Quadros que foram despedidos dos seus empregos pela sua atividade sindical e política, militantes que foram perseguidos por patrões e governos, trabalhadores pioneiros que dão a vida todos os dias pelos interesses universais das pessoas comuns.

 

 

 

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No fim de semana passado, o coração do movimento sindical internacional reuniu-se em Roma, Itália, onde ocorreu o 18º Congresso Sindical Mundial com 419 delegados de 95 países.

 

No primeiro dia (6 de maio de 2022), o secretário-geral cessante da Federação Sindical Mundial (FSM) George Mavrikos fez um discurso de abertura, analisando a experiência da atividade sindical no período anterior, bem como os desafios e lutas que se estão a colocar ao movimento da classe operária:

 

“Caros camaradas e companheiros militantes,

 

Caros colegas, irmãos e irmãs em todos os cantos do planeta. Saudamos os 105 milhões de membros da FSM que vivem e lutam em 133 países dos cinco continentes. Saudamos todos os que estão em greve e mobilizações nestes dias, saudamos todos os delegados que participam virtualmente por causa da pandemia, saudamos e agradecemos a todos vós que, apesar das muitas dificuldades, estais aqui presentes e a participar nos trabalhos de 18º Congresso Sindical Mundial.

 

Permitam-me também expressar o meu apreço e agradecimento à USB [Unione Sindicale di Base] por ter desempenhado um papel de liderança na organização do Congresso em Roma, Itália, e por fazê-lo acontecer em muito boas condições. Lembramos que na Itália, em Milão, ocorreu o 2º Congresso Histórico da FSM em 1949, onde se destacou o dedicado militante da FSM Giuseppe Di Vittorio, Presidente da FSM de 1949 até à sua morte em 1957. A USB é hoje, para a classe  operária italiana, a sua consciência de classe, a vanguarda militante, aquela que expressa e leva adiante as tradições mais gloriosas. A USB é a esperança para todos os trabalhadores sofredores da Itália e pedimos aos trabalhadores do país que a sigam e apoiem. Enviamos daqui uma mensagem de paz e diálogo pacífico aos povos da Federação Russa e da Ucrânia e pedimos o fim da guerra. Exigimos que o governo dos EUA e os seus aliados, finalmente, parem de lançar lenha na fogueira. Sabemos que as causas profundas desta guerra estão na estratégia expansionista da  NATO.

 

Apelamos a todos os sindicatos e a todos os sindicalistas que não  afrouxem. Os perigos de uma conflagração geral e de um conflito militar mundial são reais. Governos como os da Grã-Bretanha, Estados Unidos e Austrália estão constantemente a pôr lenha na fogueira. Com a propaganda global da comunicação social capitalista, eles distorcem a realidade, dizendo que a  NATO está a enviar armas para a democracia…

 

Caros colegas,

 

No período pré-congresso tentámos informar amplamente os trabalhadores. Publicámos em toda a parte  o documento central com o título: “Teses e Prioridades”. Utilizámos o máximo possível de comunicação ao vivo dentro dos setores e dentro dos locais de trabalho. Juntámos  comentários, sugestões e críticas. Agora, aqui em Roma, durante três dias, discutiremos todas as questões que preocupam a Classe Operária Mundial e o Movimento Sindical. Conseguimos estabelecer discussões abertas, democráticas e vivas, com confiança  na sustentação da nossa opinião. Este é o tipo de congresso que a FSM realiza. Este é o tipo de congresso que o Movimento Sindical militante e  de classe deve realizar. E temos certeza de que teremos um congresso assim, digno dos setenta e sete anos de história da FSM. Porque aqui estamos reunidos, trabalhadores e empregados manuais e intelectuais, trabalhadores da arte e da cultura, mulheres e jovens trabalhadores, agricultores e trabalhadores do campo, migrantes, refugiados, agricultores sem terra e indígenas.

 

Nas fileiras da FSM, nas fileiras dos sindicatos militantes, está reunida a parte mais ativa e honesta do movimento sindical. Quadros que foram despedidos dos seus empregos pela sua atividade sindical e política, militantes que foram perseguidos por patrões e governos, trabalhadores pioneiros que dão a vida todos os dias pelos interesses universais das pessoas comuns.

 

Estas são as características básicas da nossa vanguarda, as características básicas dos membros e quadros da FSM. Isto é quem nós somos. É isto que todos nós devemos ser. O que tem o sindicalismo amarelo,  comprometido com o patronato,   em contraste com a nossa equipe de quadros honestos? Burocracia, elitismo, corrupção, aristocracia sindical  e carreirismo nos tribunais da burguesia. São lacaios da Danone, do FMI, dos imperialistas e das multinacionais. Isto é quem eles são. Esse é o tipo de liderança que eles têm.


Caros amigos e camaradas,

 

Comecei o meu discurso introdutório com os nossos quadros, os nossos lutadores, porque acredito profundamente que o tesouro da FSM, o tesouro do movimento sindical de classe é a sua gente. A nossa gente, os nossos quadros, em conjunto com a nossa linha e ação, são a nossa força fundamental. É uma força invencível.

 

Tudo isto foi provado e confirmado na prática, na própria vida, nos últimos 17 anos. Em dezembro de 2005, assumimos uma FSM gravemente ferida e gravemente doente. Os seus edifícios e bens na República Checa foram confiscados. Tínhamos sido despejados da nossa sede e estávamos alojados fora de Praga  numa casa localizada  no campo. A FSM foi caluniada e desprezada. Tinha dívidas financeiras de $200.000 e uma equipe antiga e burocratizada. A média de idades era de 70 anos! Era, em geral, um mecanismo temeroso e, na maioria das vezes, sem contacto real com a base sindical. Hoje, a nossa equipe  nos Escritórios Centrais tem uma idade média de 35 anos e são militantes conscientes da FSM.

 

Poucos na época acreditavam que, sob condições de perseguição, terror e pânico a FSM se poderia  erguer de novo. E,  mesmo assim, conseguimos. Nós conseguimos. Acontece que Ernesto Che Guevara estava certo quando disse e escreveu “devemos ser realistas, devemos exigir o impossível”. O percurso de 17 anos não é um milagre. Não é o resultado de uma oração divina nem a consequência de um fenómeno natural.

 

Como conseguimos este grande progresso, o grande salto, como lhe chamou o camarada Quim Boix? Como é que hoje conseguimos entregar uma organização de 105 milhões de membros em 133 países do mundo, enquanto em 2005 recebemos uma de 48 milhões?

Primeiro: pela convicção, pela convicção profunda de que, no mundo moderno, a classe operária precisa de uma arma própria. Precisa de uma ferramenta própria para elaborar a sua estratégia e tática; estratégia e tática para si mesma como classe social com uma missão histórica particular.

 

Contra a conceção reformista e revisionista que afirma que supostamente não há classe operária hoje e identifica a classe operária com os trabalhadores braçais dos séculos anteriores, respondemos, e estamos a responder cientificamente que, no mundo moderno, com as grandes mudanças e progressos tecnológicos, mantêm-se duas classes sociais básicas: os capitalistas, os exploradores de um lado e os operários e empregados do outro. Claro que a classe operária também está a evoluir, a desenvolver-se, a adquirir mais conhecimento, está mais educada do que antes, acumulou mais conhecimento e experiência e as suas necessidades básicas estão em constante expansão. Todas essas mudanças existem e nós levamo-las  em consideração. Mas, apesar de todas essas mudanças, o critério básico permanece: a exploração, a produção de mais-valia e o roubo do suor dos trabalhadores para os bolsos da burguesia.

 

Por isso, avançamos com a convicção de que no mundo moderno há injustiça social, há exploração social que é ainda mais cruel e ainda acreditamos que a classe operária atual com o seu grande conhecimento e experiência está mais próxima de tomar  nas suas próprias mãos mãos a viragem do processo produtivo.

 

Segundo: Com o trabalho coletivo e a posição militante comum da grande maioria de nossos membros e quadros. O que alcançámos não  foi  resultado do trabalho de uma única pessoa. Veio principalmente como um esforço coletivo, uma busca comum e uma postura comum de todos nós. Juntos construímos este edifício. Não negamos o papel do indivíduo. Sabemos que, na história social, o indivíduo certamente influencia os acontecimentos.  Mas são as massas que escrevem os desenvolvimentos, o progresso e o avanço; são os  coletivos que fazem isso e não reis, cardeais ou príncipes.

 

Terceiro: Prestamos atenção à base e tentamos não perder o contacto com a base; com os nossos sindicatos, com os trabalhadores, os desempregados, os imigrantes, os refugiados, os sem-abrigo e os excluídos. Reforçámos a democracia interna na nossa atividade.

Visitei pessoalmente 87 países ao longo de 20 anos e, alguns deles, muitas e muitas vezes. Membros do Secretariado e do Conselho Presidencial fizeram o mesmo. Muitos outros  quadros visitaram muitos países e estiveram perto da base.

 

Com todos esses contactos fomos  ganhando a força da base e dando coragem às lutas.  Tentámos ter os nossos ouvidos e olhos abertos para as lutas e reivindicações da base. É assim que se conquista a confiança  dos trabalhadores e a base se torna mais militante, mais combativa, porque percebe que não está sozinha nas suas lutas. Nós amamos e apoiamos a base da FSM e a base está a retribuir com o seu amor e apreço.

 

Quarto: Utilizar a crítica, a autocrítica e a emulação indispensáveis ao nosso progresso e aperfeiçoamento a nível coletivo e individual. Como quadros da FSM, devemos sempre analisar objetivamente as situações. Devemos ter conhecimento objetivo da realidade  no nosso setor, na nossa região, no nosso sindicato e no mundo, como direção da FSM. Para atingir esse nível precisamos de autoconsciência, exame crítico e autocrítico das nossas decisões e ações. Temos o dever de fomentar a emulação coletiva, a ambição militante de melhoria e o desenvolvimento global da personalidade nos nossos quadros. E, acima de tudo, a nossa lei básica foi e será a obrigação de aprender com nossos erros; estudar as nossas fraquezas e os nossos erros para analisá-los. O lutador inteligente aprende com os seus erros. O superficial nunca!

 

Quinto: Neste curso de duas décadas, caminhámos utilizando a nossa rica história. Com os seus pontos positivos e negativos, com os seus passos em frente e para trás; com os seus compromissos dignos e as suas concessões inaceitáveis; com os seus grandes acertos e os seus poucos mas existentes erros. Para nós, hoje, a experiência histórica, tanto a positiva  como a negativa, é um ativo positivo e uma arma positiva para o presente e o futuro. E para construir o amanhã precisamos de utilizar a experiência de ontem.

 

A utilidade da história do movimento sindical a nível setorial, local, nacional e internacional é grande, hoje. E, ao mesmo tempo,  defender-nos  e contra-atacar   a tentativa indecente de reescrever a história é uma tarefa fundamental.

 

Defendemos antes e defendemos hoje a verdade histórica. Assim, fizemos em cursos especiais sobre a história do movimento sindical, em seminários especiais,  em concursos de livros e cartazes, em publicações, artigos e discursos. Em 17 anos estimamos que mais de três mil dos nossos quadros, na sua maioria jovens, tenham  participado em seminários relevantes.

 

Sexto: Assumimos a FSM em estado de paralisia. Então a tarefa imediata era a ação. Por isso, lançámos a palavra de ordem “Ação – Ação – Ação” no XV Congresso Sindical Mundial em Havana, Cuba. Não podíamos perder tempo com introversão, inação e discussões intermináveis. Enfatizámos que íamos trazer a FSM de volta à vida “em ação”. Era através da ação que provaríamos se e o que poderíamos alcançar. E desenvolvemos toda essa rica ação que todos vocês conhecem, que está descrita nos textos e principais documentos do nosso Congresso e está disponível no nosso Manual “Estatísticas 2005 – 2022”, e  nos nossos vídeos e publicações.

 

Por isso, a lição e a conclusão é a ação, a ação com os nossos objetivos e prioridades. Em ação nos últimos anos, organizámos a educação sindical e muitos cursos de formação sindical.

 

Sétimo: Contávamos financeiramente apenas com os nossos filiados, na base, nos trabalhadores comuns. Recebemos a FSM em dezembro de 2005 com uma dívida financeira de 200 mil dólares. Hoje entregamos a FSM sem nenhuma dívida. Não devemos um centavo! E gostaria de agradecer desta tribuna do Congresso a todas as organizações que, durante todos esses anos, apoiaram a FSM pelo seu “querer”. O seu apoio deu-nos  força. Hoje cobrimos todas as despesas do 18º Congresso com as quotas doa filiados e o apoio financeiro exclusivamente dos filiados da FSM.

 

Caros colegas e irmãos,

 

Após as viragens da correlação de forças internacional sofridas no período 1989-1991, o Movimento Sindical Internacional também enfrentou grandes dificuldades e grandes desafios. Esses desenvolvimentos deram origem a sérios debates, conflitos e confrontos dentro dos sindicatos. Podemos dizer sem exagero que a situação não tinha precedentes. Vimos sindicalistas e movimentos em pânico. Vimos alguns a esconderem-se por medo, outros a mudar as suas convicções da noite para o dia, outros a baixar e a esconder as suas bandeiras, a sua história, os seus símbolos.

 

As mudanças do século aconteceram e todos nós estávamos diante de  acontecimentos que abalaram o mundo. Estive presente, em 1994, em nome do movimento sindical de classe grego, como então Secretário-Geral da ESAK, no congresso crucial em Damasco, na Síria. E sinto a necessidade de agradecer à GFTU – Síria [General Federation of Trade Unions (Syria) – Federação Geral de sindicatos – Síria] e ao então Presidente do país Hafez Al-Assad, mesmo  após 28 anos, por aceitar e arcar com os múltiplos custos   da organização do 13º Congresso da FSM durante um período de perseguição à FSM.

 

Foi um Congresso existencial. As discussões versaram questões ideológicas, teóricas e organizacionais complexas e centrais. Por exemplo, se havia uma razão para manter a FSM ou se ela deveria ser dissolvida e  integrar-nos  todos na CSI (então CISL). Se a classe operária existia ou não, se a luta de classes existe ou foi abolida pela colaboração de classes e muito mais. Foi um conflito generalizado porque ambos os polos, ambas as linhas, eram fortes.

 

Naquele congresso quebraram-se as amizades, as uniões fraternas dividiram-se e cada um de nós escolheu um lado. A posição maioritária no congresso era manter a FSM e tentar modernizá-la e preservá-la. Durante aquele duro conflito interno, grandes personalidades desempenharam um papel importante, entre eles o secretário geral cubano da CTC [Central de Trabalhadores de Cuba], Pedro Ross, o  histórico comunista vietnamita CU THI HAU, secretário geral do VGCL [Confederação Geral dos Sindicatos do Vietname], o indiano Mahendra, presidente da AIUC [All-India Trade Union Congress – Congresso dos Sindicatos de Toda a índia], o sírio Izz al-Din Nasser, líder da GFTU e muitos outros, como o sírio Adib Miro, sindicalistas da Líbia…

 

Se menciono estes, é porque quero sublinhar que, desde que assumimos a liderança da FSM e até hoje, aqueles que têm estado constantemente a atacar a FSM, a linha da FSM e a sua atividade, são os dirigentes de sindicatos principalmente europeus que deixaram a FSM naquela época. Os seus ataques são sujos, caluniosos e em colaboração com mecanismos obscuros e suspeitos, também com a utilização de organizações internacionais, governos capitalistas e a burguesia internacional.

 

Todas as lideranças que deixaram a FSM seguiram durante 30 anos um caminho de integração no sistema capitalista. Juntaram-se à CSI e à CES, dizendo que supostamente iriam alterar estes mecanismos “a partir de dentro”. Depois de trinta anos, qual é a conclusão? Quem mudou afinal? Quem foi transformado? Que cada um tire suas próprias conclusões.

 

As nossas portas estão sempre abertas. Todos os sindicatos de classe são bem-vindos. Durante dezassete anos, promovemos consistentemente a unidade da classe operária e de todos os trabalhadores. Construir uma unidade sólida é a nossa tarefa diária. Claro que todos sabemos o que a palavra unidade sofreu nos vocabulários de todas as línguas do mundo. É a palavra mais usada. Como um doce, todos o têm na boca: tanto os que, sinceramente, a querem e a procuram, como os que a odeiam, mas fingem que a procuram.

Mas a unidade não é uma palavra oca. Não é uma bebida incolor, inodora e insípida. Todas as vezes tem um conteúdo específico.

 

Vejamos a questão palestina, por exemplo. Os palestinianos pedem unidade, alianças e apoio internacional para  alcançar o seu próprio Estado independente. Israel, por outro lado, também está a pedir unidade, alianças e apoio internacional, mas para expulsar os palestinianos de Jerusalém.

 

Vejamos o exemplo de Cuba. Os norte-americanos e todos os imperialistas pedem   unidade para isolar Cuba. E todos nós estamos a pedir unidade, a organizar campanhas e a unir forças e juntar esforços para apoiar Cuba, o CTC [União Central dos Trabalhadores de Cuba] e o povo cubano. Apelamos à unidade com os objetivos de Cuba, contra os objetivos da unidade imperialista. Portanto, a chave é sempre perguntar: unidade com quem e com que objetivo? Esses são avaliados no tempo e no lugar. É assim que tentamos enfrentar as necessidades dos tempos ao longo de todos estes anos, apoiando ao longo do tempo a unidade, em primeiro lugar da própria classe operária, as suas alianças com o campesinato pobre, com a juventude e com o intelectualidade que se junta aos objetivos da classe social de vanguarda. Esta unidade, a nossa unidade, unidade de classe, visa satisfazer as necessidades contemporâneas dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, exigir mudanças sociais que cheguem até ao derrubamento da exploração capitalista. Pelo contrário, a pseudo-unidade dos reformistas, dos burocratas, da aristocracia sindical e dos chamados “neutros” visa maquilhar e  branquear o capitalismo e a colaboração de classes. Visa cativar os sindicatos na colaboração de classes em linha com os imperialistas.

 

Caros amigos,

 

A FSM e  o congresso da sua fundação em 1945 foram identificados com a visão do mundo mais progressista e universal formulada e fundada pelo gigante do Pensamento Mundial Karl Marx com a ajuda e colaboração de Engels.

 

Com base nestes princípios tentámos proceder nos últimos 17 anos; fortalecendo as características do Internacionalismo, da Solidariedade Internacional e da solidariedade entre os Povos do mundo. Contamos com a rica história internacionalista da FSM, que apoiou as lutas moralmente, materialmente e de todas as formas possíveis. O internacionalismo da FSM em todos os continentes, na África, Ásia, América Latina, Caribe e América Central é conhecido e reconhecido tanto por amigos como por inimigos. Muitas vezes temos enfatizado que o internacionalismo, o internacionalismo proletário entre os trabalhadores e os povos, é a arma nuclear do movimento sindical de classe. Enfatizamos e continuamos a enfatizar que ninguém deve estar sozinho nas suas lutas.

 

Durante estes 17 anos, nunca afirmámos ser neutros. Geralmente apresentam-se  como neutros, independentes ou sem “patrono” aqueles que balançam uma vez para este lado e outra para aquele; aqueles que querem agradar a todos, aqueles que têm medo de se posicionar com clareza sobre algo ou que se posicionam com critérios oportunistas.

Não somos neutros nem independentes! Estamos 100% comprometidos e dependentes dos princípios e valores da luta de classes, da história e sacrifícios dos nossos heróis, da necessidade de emancipação da classe operária. E porque somos quem somos, não temos medo das ameaças imperialistas.

 

Os imperialistas e a classe burguesa internacional estão com medo e preocupados com o fortalecimento da FSM. É por isso que  usam sempre as mesmas medidas antidemocráticas como, por exemplo, em 1952, quando o conhecido presidente da FSM, Giuseppe Di Vittorio, foi proibido de se dirigir aos Estados Unidos para falar na ONU; da mesma forma, hoje, o Secretário Geral da FSM foi proibido de entrar nos Estados Unidos pela mesma razão; da mesma forma continuam com julgamentos fraudulentos contra o nosso quadro, Cliff, em Los Angeles e contra os nossos dirigentes em todos os países capitalistas. Todos estes anos nós lhes enviámos – e estamos a enviar-lhes mais uma vez da tribuna do 18º Congresso Sindical Mundial – a mensagem de que não temos medo deles. Não esquecemos ou perdoamos os seus crimes.

 

A FSM de hoje será respeitada ou temida. Não existe uma terceira via.

 

Assim, organizámos quatro campanhas internacionais e apoio material ao Povo Palestiniano. Organizámos um ataque global contra navios mercantes israelitas em todos os portos do mundo. Organizámos acampamentos infantis para jovens palestinianos, campanhas pela libertação de prisioneiros em prisões israelitas, intervenções em organizações internacionais pelo direito do povo palestino a ter o seu próprio Estado independente com Jerusalém Oriental como capital com base nas fronteiras de 1967. Organizámos iniciativas semelhantes de internacionalismo e solidariedade com Cuba e com o povo cubano e, em  conjunto com muitos outros movimentos conseguimos a libertação dos 5 cubanos que estavam presos nas prisões dos Estados Unidos.

 

Em todos os foros internacionais rechaçámos as calúnias lançadas pelos dirigentes sindicais amarelos em conjunto com a máfia anticubana que vive em Miami. E assim continuaremos até que o bloqueio seja abolido e a terra de Guantánamo seja devolvida a Cuba. Tivemos a mesma posição com a Venezuela, com a Bolívia, contra o golpe no Brasil e em toda a parte. Em todos os cantos do mundo ficou conhecida a postura internacionalista da Federação Sindical Mundial.

 

Os anos de que falo foram marcados por muitas guerras imperialistas. Aqueles que afirmavam que os derrubes de 1989-1991 seriam a favor da paz internacional revelaram-se hipócritas. O absurdo politicamente tolo da figura desprezível de M. Gorbachev de que todos viveríamos como irmãos numa casa comum também se mostrou hipócrita. Duas guerras na Europa, na Jugoslávia e a guerra Rússia-Ucrânia,  as guerras no Iraque, Afeganistão, Mali, Líbia, Síria, Azerbaijão e outras, confirmam que o imperialismo é um perigo para os povos e os trabalhadores.

 

A invasão da Ucrânia pela Rússia traz à tona questões sempre atuais e sempre úteis para os trabalhadores e os Povos. Lembramos que a guerra da NATO contra o Iraque foi “em nome da democracia”, o bombardeamento de 79 dias da NATO à Jugoslávia foi “pela liberdade”. No Afeganistão, na Síria, na Líbia, em todos os lugares onde os EUA, a União Europeia e a NATO atacaram, foi porque a NATO é apaixonada pela democracia, como nos dizem!!!

E todos os grandes meios de comunicação de massas  se mobilizam em torno dessas mentiras para enganar o povo. Guerras como a atual são travadas por recursos, pela  energia, por portos e mares. Além disso, agora na Ucrânia estamos testemunhar outro evento sério: a estreita cooperação entre neoliberais, neonazis e social-democratas. Na Ucrânia, a máscara dos hipócritas está a cair. Por exemplo, na França toda a gente está feliz porque a formação neofascista de Marine Le Pen perdeu, mas ao mesmo tempo apoiam o governo neofascista da Ucrânia e os batalhões neonazis. Por um lado, supostamente acusam Orban da Hungria de ser racista, mas ao mesmo tempo apoiam o governo racista polaco. Veja-se também o exemplo da Itália e da Grécia, onde aprovam a participação e o apoio a governos de racistas e neoliberais como Matteo Salvini, Panos Kammenos, etc.

 

Assim, o apoio e o armamento dos neonazis na Ucrânia provam a verdadeira face dos EUA, da  NATO e da União Europeia. Todos eles, com essa atitude, legitimam o nazismo. É por isso que estamos a tocar a campainha de alarme. Por trás de todos esses mecanismos negros a nível sindical está a CSI e a sua subsidiária na Europa, a CES. Eles escolheram o lado. Sempre estiveram com os imperialistas.

 

Apoiaram as guerras imperialistas no Iraque, aplaudiram as guerras na Líbia e na Síria, no Afeganistão e fizeram declarações a favor do bombardeamento da NATO à Jugoslávia. Mais uma vez,  estão agora ao lado dos imperialistas da NATO. Apoiam descaradamente as forças neonazis e tornam-se instrumentos da estratégia dos EUA e seus aliados que querem a Federação Russa derrotada, a República Popular da China isolada, cativos todos os países que não alinham com os seus planos como a Índia.

 

Agora querem redesenhar as fronteiras, dominar o Ártico e o espaço. Este grande quadro vem confirmar nos nossos dias que a tolerância aos fenómenos do neofascismo  traduz-se em grandes perigos para os sindicatos e os trabalhadores, e também que a cooperação e as alianças com a social-democracia cativam os sindicatos e priva-os  dos seus objetivos fundadores.

 

A história ensina que é um erro mortal que os sindicatos participem de rivalidades intra-imperialistas e escolham um campo imperialista. Além disso, fica cada vez mais claro que a luta antifascista mais consistente e eficaz é aquela que leva à emancipação dos trabalhadores e a uma sociedade socialmente justa.

 

Como uma organização sindical anti-imperialista firme, a FSM opôs-se a essas guerras, organizou grandes iniciativas de massas, comícios anti-imperialistas e antifascistas e fóruns internacionais. Estávamos nas zonas de guerra na Jugoslávia, Síria e Iraque. Durante a guerra na Síria, fomos muitas vezes a Damasco. Hoje, quando crescem os riscos de uma guerra generalizada, é necessário intensificar a nossa luta pelo fim da guerra Rússia-Ucrânia e pela resolução de todas as disputas por meio de negociações. A nossa principal tarefa agora é fortalecer as vozes e as ações para o desmantelamento da NATO. É a NATO que incendeia as guerras em toda a parte. A nossa proposta de anunciar o dia 1º de setembro de cada ano como um dia de ação internacional dos sindicatos pela paz e amizade entre os povos é oportuna e realista. Escolhemos e propomos o 1º de setembro porque em 1º de setembro de 1939, a Alemanha nazi iniciou a Segunda Guerra Mundial que custou a vida de 85 milhões de pessoas. Portanto, vale a pena concordar que estamos a revivee e a reativar uma decisão anterior tomada pela FSM na década de 1980.

 

Caros camaradas,

 

Outra palavra de ordem que lançámos nos últimos anos foi, que no mundo em que vivemos, a nossa esperança está nas nossas lutas. E, de facto, as lutas dos trabalhadores trouxeram muitos resultados concretos. Sem as lutas que ocorreram em todos os continentes, as perdas para os assalariados teriam sido maiores. Através das lutas, tanto a solução de algumas reivindicações imediatas, a defesa de direitos e conquistas e a  luta contra as privatizações, despedimentos, mudanças antissindicais e outras foram alcançadas. Mas o ganho mais importante das lutas foi e é a compreensão dos trabalhadores de que o nosso poder está apenas na luta de classes.

 

Além disso, por maior que a consciência de classe seja e as massas compreendam que a ação no quadro do sistema capitalista não seja ilimitado, isso também é um grande ganho. O trabalhador que veja por experiência própria que as lutas vão além da satisfação das suas necessidades contemporâneas, chegando ao conflito e ao questionamento direto do sistema explorador, esse trabalhador torna-se um militante mais forte e consciente. Como resultado de todas essas lutas e ricas ações veio o fortalecimento organizacional da FSM com a criação da Comissão das Mulheres Trabalhadoras, da Comissão da Juventude, da Comissão de Imigrantes, da Comissão de Assessoria Jurídica, etc.

 

Ao longo dos últimos anos,  foram organizadas grandes lutas de todas as formas. Desde os protestos mais simples, petições, comícios, até formas mais elevadas e complexas como paralisações, greves, ocupações de fábricas, etc.

 

Não vou falar de países porque corre-se o risco de esquecer um país, um setor ou uma greve. Afinal, todos sabemos que em todos os continentes a classe operária mobilizou-se e lutou. Mas deixem-me fazer três exceções. Uma, as grandes greves na Índia, com 200 milhões de manifestantes numa ocasião e 260 milhões na outra, foram greves que deram força e coragem a todo o planeta.

 

A outra foi a greve militante dos sem-terra em Curuguaty, Paraguai, liderada pelo camarada Villalba, que foi manchada com o sangue dos militantes e penas pesadas que obrigaram o líder da FSM a passar 12 anos na prisão, em condições desumanas que vimos com nossos próprios olhos durante uma visita ao presídio de Assunção. E a terceira, que não é uma, mas muitas juntas, são as greves sangrentas dos trabalhadores palestinianos que resistem aos postos de controle do exército israelita e enfrentam o terrorismo israelita.

 

Caros colegas,

 

Como FSM, destacamos a necessidade de defender o direito à greve. É um direito sagrado, conquistado com o sangue dos nossos companheiros. A burguesia internacional exige a abolição do direito à greve, colocando tantos e tantos obstáculos que será impossível organizar uma greve. Afirmamos  desta tribuna que defenderemos a todo custo o direito à greve e os direitos às liberdades democráticas e sindicais.

 

Camaradas,

 

Para uma Organização Sindical Internacional como a FSM, as nossas lutas começam nas ruas, nas praças públicas, nas fábricas e as nossas vozes chegam às Organizações Internacionais nas quais participamos. Discutimos em congressos anteriores e decidimos utilizar a nossa presença nas Organizações Internacionais para promover e assinalar as questões dos trabalhadores. Não temos ilusões sobre o papel atual das Organizações Internacionais, principalmente após as mudanças no equilíbrio de poder internacional. Hoje, as Organizações Internacionais são controladas pelos governos dos Estados Unidos e da União Europeia.

 

Lembremos quantas resoluções a ONU tomou para deter o bloqueio contra Cuba. Muitas. Qual é o resultado prático? Palavras vazias. Pelo contrário, foi necessária apenas uma decisão para os imperialistas atacarem a Líbia e a guerra foi travada. Esta é a foto de hoje. No entanto, podemos, sem ilusões, usar a nossa presença na ONU, na FAO,  na UNESCO e na OIT para revelar a verdade do ponto de vista das pessoas comuns.

 

Seguindo essa tática nos anos anteriores, destacámos dentro das organizações internacionais os assassinatos de sindicalistas pioneiros na Colômbia, a brutalidade patronal contra os trabalhadores rurais em Foggia, Itália, as responsabilidades do governo da França com os ataques em Gardanne, lutámos dentro da FAO contra os altos preços dos alimentos básicos, destacámos na UNESCO a defesa das línguas maternas e dialetos locais que são património mundial.

 

Dentro da ONU, a nossa persistência e as nossas intervenções para as mulheres trabalhadoras tiveram um impacto significativo. E, é claro, que tanto na ONU como na OIT temos exposto consistentemente o papel sujo dos governos e do patronato contra Cuba, Venezuela, Síria, Líbia, Iraque, Irão e todos os povos que exigem decidir por si mesmos sobre seu presente e futuro.

 

Colegas,

As nossas lutas e a nossa atenção incluíram todas as reivindicações que dizem respeito ao povo trabalhador em todos os cantos do planeta. Durante o período da pandemia revelámos que “o Rei vai nu” e que os pobres pagaram com a vida as carências na saúde pública. Ao mesmo tempo, insistimos na importância de defender as liberdades democráticas e sindicais enquanto os governos, sob o pretexto da pandemia, intensificam os seus ataques antidemocráticos através do teletrabalho e da generalização do trabalho a tempo parcial.

 

As questões das alterações climáticas, a utilização dos recursos hídricos, a necessidade de habitação digna, o acesso a água limpa e potável para todos os residentes de África, os cuidados de saúde públicos e gratuitos, bem como a nossa luta contra o trabalho infantil, têm sido há muitos anos a linha de frente das nossas reivindicações centrais nas Jornadas de Ação estabelecidas desde 2008 e organizadas todos os anos sem  interrupção.

 

Mas permitam-me destacar as nossas lutas por condições de saúde e segurança nos locais de trabalho. É nosso princípio básico exigir que todos os trabalhadores voltem para casa com saúde, sãos e salvos. Para voltar do trabalho como saíram de casa para o trabalho. Lamentamos as vítimas todos os anos. Os crimes são cometidos pelos patrões, pelos monopólios e os seus governos. Trezentos e um mineiros ficaram soterrados em Soma, Turquia e o Presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, disse que era a vontade de Deus!!! Não, não era a vontade de Deus. Foi um crime do patrão. Em Dhaka, Bangladesh, 1.400 operárias de vestuário ficaram soterradas sob as ruínas da antiga fábrica. No Qatar, mais de 6 500 trabalhadores perderam a vida nas obras da Taça do Mundo. Em todos os lugares, em todos os continentes, a situação é trágica. A OIT estima que 2, 3 milhões de homens e mulheres percam a vida por acidentes ou doenças profissionais todos os anos, ou seja, 6 000 mortes por dia. Em todo o mundo ocorrem 340 milhões de acidentes de trabalho e 160 milhões de vítimas de doenças ocupacionais são registados todos os anos.

 

Governos e capitalistas são os perpetradores morais e físicos. Esses incidentes são crimes, não o resultado de fenómenos climáticos. Pois bem, sabemos que nos incêndios são os pobres que se queimam, nas inundações são os mais pobres que se afogam, durante os terramotos geralmente são os mais pobres que são esmagados. A verdadeira causa de tais crimes está na sede de lucros. Como sindicatos, temos a sagrada obrigação de aumentar diariamente a nossa consciencialização e as reivindicações pela saúde e segurança dos trabalhadores. Não apenas quando tais crimes ocorrem. A prevenção é valiosa, por isso é um dever diário para nós.

 

Caros irmãos e irmãs, colegas

 

Após cinco anos como vice-presidente da FSM e 17 anos como seu secretário-geral, estou profundamente convencido de que a classe operária mundial e todos os trabalhadores do mundo precisam da FSM. Eles precisam de uma FSM que dê esperança, inspire e defenda seus interesses. Sem a FSM, a situação dos trabalhadores e do movimento sindical seria muito pior e com mais dificuldades do que temos hoje.

Pense-se no que a FSM contribuiu para seus próprios países de 1945 até os dias atuais. Presente em todos os lugares e sempre ao lado dos seus povos e dos seus sindicatos. Pense-se em quantos sindicatos a FSM ajudou a fundar nos primeiros e difíceis anos.

Pense-se nos líderes que surgiram nos seus países e nos seus setores, que deram as suas vidas pela luta de classe. Não nos esqueçamos que as reivindicações sindicais mais avançadas dos trabalhadores  foram apresentadas e exigidas nas faixas, publicações e reivindicações da FSM. Todos nós temos o dever de difundir e defender esta verdade histórica, e de denunciar os mentirosos e falsários que espalham metodicamente mentiras através das várias fundações como a Friedrich Ebert, através das várias ONG que, na sua maioria, são mecanismos de corrupção da consciência dos trabalhadores..

 

Camaradas,

 

Para concluir, quero dizer a todos vós, a todos os nossos membros, que estou otimista  em que, com a unidade de todas as nossas fileiras e fortalecendo as características de classe da FSM, fortalecendo a nossa ação no que diz respeito aos trabalhadores hoje podemos atender às reivindicações dos tempos.

 

O poeta pioneiro revolucionário russo Vladimir Mayakovsky escreveu: “o futuro não virá por si mesmo” no seu grande poema com o título geral: “Tirem o futuro da lama!”. Depende da nossa ação tirar o futuro da lama do capitalismo. O futuro de todos nós não pode ser o capitalismo. O futuro pertence ao mundo do trabalho e das lutas. Por um mundo sem exploração do homem pelo homem. Continuemos unidos na nossa linha militante, na linha testada da luta de classes e do internacionalismo proletário.

 

Para tirar o futuro da lama!

 

VIVA A FSM ANTICAPITALISTA

VIVA A FSM ANTI-IMPERIALISTA”.

 

Fonte: https://mltoday.com/outgoing-wftu-leader-pull-the-future-out-of-the-mud-of-capitalism/, publicado e acedido em 10.05.2022

 

Tradução de TAM

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