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quinta-feira, 14 de abril de 2022

ÉTICA- Prolegómenos

 Por vezes partilho documentos com os quais não estou inteiramente de acordo, porque ninguém tem a posse de uma verdade única. Pensar o contrário é inibir o avanço do pensamento filosófico e científico. Quando publico opiniões pessoais, elas manifestam ou implicitamente contêm dúvidas e perguntas.

1. Sobre as últimas eleições francesas (1ª volta) expressei a surpresa e o interesse que rodeia na esquerda europeia os resultados alcançados por Jean-Luc Mélenchon : 22º (7.712.520 votos) . Marine Le Pen obteve apenas mais umas centenas. Se a aritmética comandasse os cálculos da política, uma aliança eleitoral da esquerda unida colocava Mélenchon na 2ª volta. Nenhum dos intervenientes a quis, sobretudo o próprio pois hostilizou todos os partidos de esquerda (PCF, PS, etc.), mantendo-se sozinho com o seu partido "França Insubmissa". Postas as coisas com alguma simplicidade, a responsabilidade é dele pelo que vai suceder na 2ª volta. É uma hipótese remota nascer em Portugal um novo partido semelhante ao de Mélenchon ( o presidente da república francesa é que nomeia o governo; tivemos situações semelhantes em eleições presidenciais, porém o caso português é completamente diferente) para as eleições legislativas (aqui é o Parlamento que nomeia o governo). É remota porque já tivemos o "fenómeno" Bloco de Esquerda (como a Grécia teve o Syriza, e a Espanha o Podemos). Contudo, deixei a interrogação: alguém pode vaticinar o futuro? É improvável o surgimento de um orador poderoso, à esquerda, mobilizador, confiável, suficientemente hábil para se "livrar" dos preconceitos anti-comunistas, mas capaz de estabelecer pontes com toda a esquerda e atrair o operariado jovem, os assalariados precários, os quadros técnicos, a intelectualidade ?

2. Os ajustes do governo da Venezuela com o grande patronato (uma parte dele) e a forma hábil como se realizam negócios "paralelos" e à revelia das sanções, e a abertura apoiada pelo Estado à pequena e média iniciativa privada, tem obtido sucesso e libertou a experiência de democracia avançada do colapso iminente. O apoio popular ao governo de Maduro é flagrante e notável. É a tentativa de desfazer o nó górdio das revoluções e experiências reformadoras avançadas: conciliar a economia pública com a economia privada. Lembrando sempre a NEP (Nova Política Económica) de Lenine, e a política exitosa da China. O programa de uma Democracia Avançada nos Valores de Abril, do PCP, enfrenta esse desafio, muito embora as alianças necessárias para o realizar sejam sempre um enigma em Portugal.

3. Porque incluo estas questões políticas nos prolegómenos de uma Ética de orientação marxista? Porque a distinção entre ética e política é difusa atualmente. Ambas necessitam uma da outra para que nenhuma seja apenas formal. A ética será uma investigação filosófica (nos conceitos e métodos) da Moral, porém não se interdita nela a possibilidade de avançar com normas e princípios. Uma ética de orientação marxista (não estou a dizer "ética marxista"!), materialista, histórica e dialética, tem de resolver a eterna questão da universalidade das normas.




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