Quando pessoas com intervenção cívica corajosa e progressista, pessoas honestas e decentes, inteligentes e cultas, quer sejam intelectuais ou funcionárias do Estado ou de empresas privadas e associações, quadros técnicos, jovens ou idosos, se afastam do nossos discurso, das nossas posições, e não vêm nos nossos projeto senão modelos do passado, e quando essas pessoas - operários, empregados, funcionários públicos - são em grande número. temos de refletir. Quando perdemos largas fatias da nossa base social de apoio - nos sindicatos e nas eleições políticas - temos de refletir. Quando não estamos a conseguir atrair as novas e velhas camadas de trabalhadores e de intelectuais, temos de refletir.
Não temos sempre e necessariamente de despir a pele e vestir outra que julguemos mais atrativa mas menos ou nada revolucionária (entenda-se revolução aqui um conjunto ligado de reformas estruturais profundas em benefício dos trabalhadores e das camadas médias, da justiça social no regime de propriedade e de distribuição, da democratização objetiva da cultura e do ensino). Não. Seja o que for e como for, tem-se que mudar. A melhor defesa quando estamos a ser encurralados, não é morder, mas dialogar e unir.
Os projetos comunistas estão em refluxo. Começou este no termo da década de setenta por toda a Europa. A derrota das experiências revolucionárias e dos Estados socialistas foi colossal. Vivemos ainda sob esse maremoto. Não produzimos para a Europa uma teoria inovadora e o marxismo no plano político estagnou. O capital, de Karl Marx, ressurgiu, é verdade, como a melhor teoria para nos fazer compreender as crises dos velhos e novos capitalismos : porém, a teoria económica não encontrou correspondência prática na política, nomeadamente nas preferências dos eleitores. As pessoas podem até compreender as crises capitalistas, as causas da enormes desigualdades sociais, mas não se mostram interessadas nos partidos que as ensinam.
A experiência portuguesa que tanto despertou a atenção internacional terminou da pior maneira, parecendo confirmar aos olhos de alguns críticos o que dizem sempre suceder com quaisquer alianças com os partidos da burguesia social-democrata ou reformista. No entanto, há situações em que para afastar o pior possível temos de nos juntar ao menos mau. Passado o perigo conjuntural, paga-se o preço. Nem sempre, mas quase sempre.
Tem-se que mudar. Um "populismo de esquerda" à maneira de Mélenchon, ou radicalizar o discurso para que daí venha a resultar uma ação de massas mais radical? É sempre o sistema que está na berlinda. Denunciar a demagogia do neo-fascismo contra o "sistema" (uma austeridade ainda mais austera já nós a conhecemos), denunciando o sistema real : o capitalismo neoliberal. Somente este ou toda e qualquer forma de capitalismo monopolista, aceitando-se, portanto, o mercado e a propriedade capitalista? Julgo sem dúvida. No entanto, são este último programa e a ação correspondente capazes de fazer sair do casulo defensivo e atrair as massas operárias e pequeno burguesas? Com que processos novos?
É provável que a novidade em qualquer momento esteja mais perto de ser uma estratégia "Mélenchon", quando os dois partidos da esquerda (o PS não se mostra um partido da esquerda: é um partido burguês reformista entretanto submetido ao neoliberalismo "moderado") se encontram tão fracos.
Se, entretanto, nascer um "Mélenchon".
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