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domingo, 10 de abril de 2022

Ranking da felicidade

As melhores posições do ranking dos países mais felizes do mundo vão para os países nórdicos, em particular, e para nações ricas do Primeiro Mundo, em geral. Mas HÁ uma novidade: o crescente peso de fatores como a solidariedade. Portugal volta a subir, mas continua na cauda da Europa

Texto Luís Francisco Infografia Carlos Esteves Ilustração Cristiano Salgado

Pelo quinto ano consecutivo, os 5,5 milhões de finlandeses garantem o primeiro lugar no relatório anual patrocinado das Nações Unidas: o Relatório da Felicidade Mundial, este ano na sua edição número 10, mantém a liderança da Finlândia, seguida de Dinamarca, Islândia, Suíça e Países Baixos. Portugal aparece no segundo terço da classificação, na posição 56, uma subida de dois lugares que, ainda assim, nos mantém entre as últimas nações de um continente europeu cada vez mais coeso: o fosso entre os países ocidentais e os oriundos do antigo bloco de Leste tem vindo a atenuar-se. Nestes 10 anos, as maiores subidas na classificação foram registadas por Sérvia (este ano no 43º lugar), Bulgária (85º) e Roménia (28º).

Os dados compilados pela equipa de especialistas responsável pelo tratamento dos resultados das sondagens levadas a cabo entre 2019 e 2021 pela Gallup refletem o pano de fundo da pandemia de covid-19, mas não os efeitos globais e locais da guerra na Ucrânia. Uma das conclusões mais evidentes é a crescente importância de ações de solidariedade: as doações para caridade, a ajuda a estranhos e transeuntes e o trabalho voluntário cresceram à volta de 25%. Há, além disso, um efeito menos visível nas mentalidades — nos países mais desenvolvidos, as pessoas já assumem que o seu conceito de felicidade era um antes da covid e outro depois da eclosão da pandemia.

Usando as novas ferramentas de análise de textos publicados (em papel e online), o estudo chega a conclusões curiosas. No universo das diversas línguas referenciadas (o português não foi incluído), a palavra “felicidade” aparece 25 vezes por milhão e desde 2003 que é mais comum do que, por exemplo, a frase “produto interno bruto”, um antigo indicador de progresso mas que entrou em declínio desde 2010. “Rendimento” saiu de moda bem mais cedo e aparece agora menos de metade das vezes face a 1995. Embora menos presentes do que “felicidade” (que duplicou a sua frequência desde 1995), noções como “satisfação de vida” ou “bem-estar subjetivo” estão a ganhar popularidade — esta última aparece oito vezes mais do que em 1995. “Estas tendências pintam um quadro prometedor de um interesse crescente em novas e subjetivas noções de bem-estar e um decréscimo do foco no rendimento e na produção”, pode ler-se no relatório.

O peso do dinheiro

O estudo analisa as respostas dos inquiridos e os dados estatísticos referentes a seis indicadores: PIB per capita, expectativa de vida saudável, apoios sociais, liberdade individual, generosidade e perceção de corrupção. Apesar de alguns destes campos serem profundamente pessoais, uma vez que são fruto da perceção individual, as fórmulas de cálculo e correção dos números permitem tirar conclusões objetivas sobre um conceito que durante muito tempo se considerou intangível: a felicidade. O aforismo popular garante que o dinheiro não a compra e os dados recolhidos nos textos escritos mostram que palavras mais viradas para o lado económico-financeiro da vida estão a perder visibilidade, mas um rápido relance pela tabela não deixa dúvidas de que a qualidade de vida ao nível material é meio caminho andado para se ter uma sensação de felicidade superior à dos que lutam em condições adversas.

O primeiro país africano só aparece na 52ª posição e a pequena nação insular de Maurícia está longe de ser um caso típico no seu continente... É preciso chegar ao lugar 86 para encontrar o segundo país de África, a Líbia, que neste momento é praticamente um Estado falhado, mas onde o petróleo brota das areias (e os dados são referentes a 2019). O Barém (21º), os Emirados Árabes Unidos (24º) e a Arábia Saudita (25º), onde o dinheiro dos combustíveis fósseis fala mais alto, são os melhores da Ásia na perceção de felicidade, seguidos de Singapura (27º), um dos maiores centros financeiros mundiais. Na América Central e do Sul, o melhor é a Costa Rica (23º), seguida do Uruguai (30º). Entre os 20 primeiros há 16 europeus (incluindo os oito primeiros), dois da Oceânia (Nova Zelândia e Austrália) e outros dois da América do Norte (Canadá e EUA).

Os países com maiores ganhos na perceção de felicidade desde o primeiro relatório sobre a felicidade mundial, divulgado em 2010 com dados recolhidos entre 2008 e 2012, são, por esta ordem, Sérvia, Bulgária, Roménia, Hungria, Togo, Barém, Letónia, Benim, Guiné Equatorial e a Arménia. Em sentido descendente, as perdas mais notórias são as do Líbano, Venezuela, Afeganistão, Lesoto, Zimbabué, Jordânia, Zâmbia, Índia, México e Botsuana.

Ainda sem ter em conta as consequências da invasão russa, a Ucrânia já estava bem abaixo no ranking, com o 98º posto, atrás da Rússia (80º) — esta bem pior do que os rivais EUA (16º) e também atrás da China (72º). Além de Portugal, os únicos países de língua oficial portuguesa contemplados no relatório são o Brasil (38º) e Moçambique (101º). Aliás, a edição 2022 refere apenas 146 países, bem abaixo dos 155 analisados em 2012.

   Fonte: Expresso, Fisga

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