Impressiona desagradavelmente as posições tomadas por Anselm Jappe relativamente ao conflito militar que se desenrola no Leste europeu. Para facilitar a desindustrualização do mundo propõe que se aproveite a situação para o Ocidente destruir a economia russa, aumentando as sanções e fazendo explodir os gasodutos! Assim, proclama, é bem possível ligar os programas pacifistas,ecologista e sociais! Como evitar que os mais pobres sofram com este súbito decrescimento? «É evidente que uma escolha como essa, para não atingir apenas os que já
são pobres, deveria vir acompanhada de medidas drásticas de
redistribuição: impostos pesados sobre grandes empresas, grandes
fortunas, altos salários e aposentadorias. Isso ainda não constituiria
uma saída da sociedade mercantil, mas já seria um belo avanço.». "Bela alma!", diria o Velho Hegel!
Anselm Jappe escreveu um livro - "A sociedade autofágica: capitalismo, desmesura e autodestruição" - que se lê com agrado, mas que, a uma leitura mais sabida, se vê como ele, na peugada do falecido Kurz, desloca o Valor da sua base, isto é, da produção, e, com um elegante e hábil estratagema, substancializa os fenómenos do fetichismo e do narcisismo. Sobretudo, ficciona (herdando as teses de Kurz e companhia) um capitalismo - um modo de produção específico- como uma "máquina" que se move a si mesmo. Ou seja, fora com as lutas de classes, e outras dialéticas! Incluindo a característica desta crise sistémica que se afigura como sendo de uma economia fictícia desfasada da economia real, o que significa desindustrialização do Ocidente, particularmente dos EUA!
Ainda assim, ou apesar de teses tão controversas e controvertidas, não era de esperar que ele intitulasse (ou permitisse o título) o seu artigo no site "A Terra é Redonda" de "Cortem o gás russo!", explodindo (à bomba suponho) os gasodutos que por muitos países leva o gás da Rússia.
Aos que afirmam que o imperialismo estaria por trás dos acontecimentos ele considera-os "residuais" com a condescendência que se tem por "idiotas úteis".
Assim se mostra a que pode chegar um intelectual (trabalhador de temas e desafios como se constata no livro citado e bem sucedido nos círculos das esquerdas) que retira das obras de Marx o que lhe convém. Mas as esquerdas são plurais obviamente. Chegam frequentemente ao ponto em que se confundem com as direitas. Para estes o crescimento não tem orelhas e dentes do capitalismo (como dizia o lobo) e este conflito no Leste não tem nada que ver com imperialismo. Talvez tenha, corrijo: mas só com o imperialismo russo...ou, eventualmente, chinês.
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