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domingo, 23 de fevereiro de 2020

o tempo das cerejas 204 maio 2014

Aos fins de semana, na última do "Público"

O explosivo casamento
do rancor com a senilidade talvez
com mais alguma coisa pelo meio




A excelente e elegante maneira de argumentar de Vasco Pulido Valente, hoje no Público, sobre Marx e os marxistas: « Agora não se lia Marx, ou muito pouco. Mas não se podiam perder as revelações que constantemente nos chegavam do marxismo francês e se ramificavam até aos mais pequenos pormenores da vida. Não me peçam para dizer os nomes das «notabilidades»  da «escola de Paris». Só me lembro de uma, Louis Althusser, que, certamente levado pelo materialismo dialéctico, estrangulou a mulher».
Como já aqui contei uma vez, ninguém me tira da cabeça que a culpa de boa parte deste vezo antimarxista e anticomunista de Vasco Pulido Valente deve ter pertencido a Octávio Pato que contava divertido como uma vez, numa das suas regulares visitas clandestinas a casa dos Correia Guedes, à segunda canelada recebida do fedelho Vasco, lhe afinfou duas valentíssimas palmadas no rabo.

Adenda de carácter histórico:
Porque isto está mau para a memória e porque  sempre emergem novas gerações, pode haver leitores que pensem que só por ocasião dos 40 anos da revolução portuguesa é que Vasco Pulido Valente passou a escrever 25 de Abril com aspas e a gozar com os capitães de Abril. Não é verdade: já nos 30 anos do 25 de Abril, o sujeito tinha publicado no DN de 27.4.2004 um «ensaio» intitulado «Imitar a revolução» onde já lá estava tudo isso e muito mais. Respondi-lhe então assim no Avante!  de 5 de Maio de 2004:

Imitação

Foi assim: o «25 de Abril» foi feito porque o Exército não queria continuar a guerra. Os «capitães» que se pronunciaram contra a ditadura não tinham um plano, ou sequer uma ideia, para o país. Normalmente pouco educados, se pensavam no assunto, era para partilhar os lugares comuns «socializantes» da oposição urbana e estudantil. Por si só, o famoso «Programa do MFA», incoerente e sumário, revela bem o vácuo para que se empurraram os portugueses. Por um lado, prometia eleições e, por outro, a «reforma agrária» e uma «estratégia anti-monopolista», dois pontos cruciais, retirados da vulgata do PC. Ao lado disto, havia também as ideias ou propostas de um Spínola megalómano e ignorante. Logo de principio, existiram, portanto, dois programas, um pior que o outro, e duas facções. Faltava «sair» e estabelecer o caos.


A «revolução de Abril», como romântica e fraudulentamente lhe chama a Esquerda, nunca existiu. As manifestações de grande entusiasmo legitimavam o «golpe» contra a ditadura mas mais nada. E muito menos o assalto, inaugurado a 26 de Abril, a toda a espécie e género de autoridade que nos primeiros meses chegou espontaneamente a inimagináveis proporções. Muito acima do MFA e dos seus cabecilhas, o maior culpado de tudo o que se seguiu (incluindo a miséria e o atraso a que a «revolução» levou a economia) foi Álvaro Cunhal que vivia em 1940 e, pela força, queria estabelecer em Portugal um regime soviético. Como bem se percebeu pela sua cópia fiel (e, de resto, encenada) no Aeroporto da Portela do desembarque de Lenine na estação da Finlândia. Abreviando pormenores (como o «povo» que berrava na rua), percursos e acidentes, conclua-se, por fim, que a verdadeira revolução foi a de Mário Soares.

Os leitores que tenham conseguido suportar todas estas linhas alarves merecem a informação de que estivemos simplesmente a imitar (na verdade, a resumir) o «ensaio» (?) que, sobre o 25 de Abril, Vasco Pulido Valente, perpetrou nas páginas do «DN» de 25/4 com o título «Imitar a revolução».

E, para tanto, bastaram-nos 284 palavras (e comas) tiradas das 6862 que V.P.V. gastou. Almas escrupulosas dirão que este nosso resumo representa uma cruel e malévola caricatura do «ensaio» de V.P.V. Nem tanto, mas ainda que assim fosse, amor com amor se pagaria.

É voz corrente que Vasco Pulido Valente Correia Guedes escreve muito bem. Assim será, mas pensa muito mal. E preferíamos mil vezes que escrevesse com os pés mas pensasse com a cabeça em vez de com a bílis.

Se não o soubéssemos já, fica assim definitivamente provado que a História, ao menos a recente, é um assunto demasiado sério para ser deixado apenas aos historiadores e aos cabotinos envinagrados.»

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